"Nos últimos tempos tenho estado mais atento ao panorama radiofónico regional, que, diga-se, é bastante fraco, o que me deixa triste. Este cenário é estranho, quando estudos mostram que a rádio (bem feita) está a ganhar ouvintes todos os dias.
Ando nestas ‘vidas’ há 37 anos, sem contar com outras experiências nas rádios das escolas por onde andei. O panorama regional é triste e, sem meias palavras, por desleixo de alguns responsáveis; por incúria em investimentos megalómanos, ou, simplesmente, porque quem dirige não tomou as decisões certas em momentos cruciais, mas também da ‘ilusão’ de alguns que não olharam a meios para atingir os fins. Sei do que falo. E poderia dar uns quantos exemplos.
Esta dissertação nasceu quando há pouco li que numa Assembleia Geral de uma das estações de rádio históricas dos Açores estiveram apenas 10 pessoas, facto que pode levar ao seu encerramento. Esta é uma realidade que existe também na região, que pode levar ao ‘fecho’ de algumas frequências nos tempos próximos. Isto demonstra a ausência de interesse dos associados, mas também da forma como o produto “rádio regional” foi, nos últimos anos, sendo ‘desrespeitado’ pelos seus próprios intervenientes e, por consequência, a perda de interesse dos ouvintes.
Olhando para a região da Beira, há estações de rádio que já estão em modo ‘coma induzido’. Basta correr as suas frequências para perceber esta realidade. Não há uma estação de rádio com identidade Beirã, não há um produto ‘rádio’ com interesse abrangente e, pior, salvo uma ou outra exceção andam todas ‘discutir’ o mesmo tipo de auditório. A provar este cenário basta estar atento, fazer zapping, e passar uma manhã a ouvir as rádios da região, para perceber que há muitos ouvintes que ligam às 9 horas para a rádio X, uma hora depois para a rádio Y e logo a seguir para a rádio Z. Esta situação repete-se dia após dia, semana após semana.
Há dias estava em viagem e sintonizei uma frequência marcante na região. Só ouvi um sopro. A emissão estava em ‘baixo’. Em conversas com amigos ligados há anos ao meio, fui ouvindo os lamentos de quem se sente impotente perante a falta de interesse dos ‘donos’ das frequências, mas também por aquilo que alguns responsáveis das mesmas, que não necessariamente os ‘donos’, foram fazendo para ‘queimar’ o ‘produto’, com programas de qualidade duvidosa para ‘encher chouriço, mas também ‘queimando-se’ num mercado publicitário já de si competitivo.
Aqui reside parte do busílis da questão. A ‘fúria’ de vender um spot a qualquer custo (há spots de 40’ a 15 cêntimos/cada) fez com que o mercado publicitário radiofónico se tornasse uma selva, o que levou ao estado a que chegámos hoje, de ter blocos de publicidade longos, que muito poucos (para não dizer ninguém) ouvem, e, pior, com mensagens publicitárias sem criatividade e, por vezes, de péssimo gosto.
Em resumo, para não me alongar mais nesta dissertação, diria que para uma rádio da região ter sucesso precisa de um produto diferenciador, bem feito, que, verdadeiramente, cative uma larga camada de público e potenciais investidores.
No panorama atual, com raríssimas exceções, falta gosto (de gostar) de quem dirige, faltam vozes de qualidade, falta imaginação, falta criatividade e, principalmente, falta profissionalismo, mesmo que muitas vezes sejam simples ‘carolas’. A rádio ou se bem faz bem ou é preferível ter o microfone desligado.
Mas porque nem tudo é menos bom, faço a minha vénia àqueles que mantêm a rádio no ar, com muito esforço dedicação e, nalguns casos, sem remuneração. A questão é que a concorrência é desleal. E quando assim é, como diz o povo, “paga o justo pelo pecador”.
Termino com um último conselho a quem ainda faz locução, animação, relato ou informação nas rádios da região: gravem os vossos programas e oiçam-se.
Boa rádio faz falta."